Espiritismo, doutrina espírita ou kardecismo é uma doutrina espiritualista e reencarnacionista estabelecida na França em meados do século XIX pelo autor e educador Allan Kardec (pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail). Como tal, pretende explicar, a partir de uma perspectiva cristã, o ciclo pelo qual um espírito supostamente retorna à existência material após a morte do antigo corpo em que habitava, além da evolução pela qual ele passa durante este processo. O conceito também interage com concepções filosóficas e científicas sobre a relação entre o físico e a moral. O kardecismo surgiu como um novo movimento religioso ramificado do campo espiritualista, as noções e práticas associadas à comunicação espiritual disseminadas em toda a América do Norte e Europa desde os anos 1850.
Kardec criou o termo espiritismo em 185, e o definiu como "a doutrina fundada sobre a existência, as manifestações e o ensino dos espíritos". Mesmo não sendo reconhecido como ciência, Kardec dizia que o espiritismo alia aspectos científicos, filosóficos e religiosos, buscando uma melhor compreensão não apenas do universo tangível, mas também do universo a esse transcendente. Depois de observar e analisar as mesas girantes, o professor Rivail ficou intrigado com o fato da mesa se mover sem que ela tenha músculos ou formular respostas, sem que ela tenha cérebro. E foi o próprio agente causador do fenômeno que teria respondido: "Não é a mesa que pensa! Somos nós, as almas dos homens que viveram na Terra". Rivail foi então estudar este e outros fenômenos, tal como a chamada "incorporação" e a mediunidade.
A doutrina é baseada em cinco "obras básicas", chamadas de Codificação Espírita, publicada por Kardec entre 1857 e 1868. A codificação é composta por O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Somam-se ainda as chamadas obras "complementares", como O Que é o Espiritismo?, Revista Espírita e Obras Póstumas. Seus seguidores consideram o espiritismo uma doutrina voltada para o aperfeiçoamento moral do homem e acreditam na existência de um Deus único, na possibilidade de comunicação útil com os espíritos através de médiuns e na reencarnação como processo de crescimento espiritual e justiça divina.
De acordo com o Conselho Espírita Internacional, o espiritismo está representado em 36 países ao redor do mundo, com mais de 13 milhões de adeptos, sendo mais difundido no Brasil, onde conta com cerca de 3,8 milhões de seguidores, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e mais de 30 milhões de simpatizantes, de acordo com a Federação Espírita Brasileira (FEB). Os espíritas também são conhecidos por influenciar e promover um movimento de assistência social filantrópica. O kardecismo teve uma forte influência em várias outras correntes religiosas, como a santeria, a umbanda e os movimentos new age.
O termo espiritismo (do francês antigo "spiritisme", onde "spirit": espírito + "isme": doutrina) surgiu como um neologismo, mais precisamente uma palavra-valise, criada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (conhecido por Allan Kardec) para nomear especificamente o corpo de ideias por ele sistematizadas em O Livro dos Espíritos (1857).
Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos; espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia.(...) Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria.
Contudo, a utilização do termo, cuja raiz é comum a diversas nações ocidentais de origem latina ou anglo-saxônica, fez com que ele fosse rapidamente incorporado ao uso cotidiano para designar tudo o que dizia respeito à alegada comunicação com os espíritos. Assim, por espiritismo, entendem-se hoje as várias doutrinas religiosas e/ou filosóficas que creem na sobrevivência dos espíritos à morte dos corpos, e, principalmente, na possibilidade de se comunicar com eles, casual ou deliberadamente, via evocações ou espontaneamente.
O termo "kardecista" é repudiado por parte dos adeptos da doutrina que reservam a palavra "espiritismo" apenas para a doutrina tal qual codificada por Kardec, afirmando não haver diferentes vertentes dentro do espiritismo, e denominam correntes diversas de "espiritualistas". Estes adeptos entendem que o espiritismo, como corpo doutrinário, é um só, o que tornaria redundante o uso do termo "espiritismo kardecista". Assim, ao seguirem os ensinamentos codificados por Allan Kardec nas obras básicas (ainda que com uma tolerância maior ou menor a conceitos que não são estritamente doutrinários, como a apometria), denominam-se simplesmente "espíritas", sem o complemento "kardecista". A própria obra desaprova o emprego de outras expressões como "kardecista", definindo que os ensinamentos codificados, em sua essência, não se ligam à figura única de um homem, como ocorre com o cristianismo ou o budismo, mas a uma coletividade de espíritos que eles acreditam que se manifestaram através de diversos médiuns naquele momento histórico, e que se esperava que continuassem a comunicar, fazendo com que aquele próprio corpo doutrinário se mantivesse em constante processo evolutivo. Outra parcela dos adeptos, no entanto, considera o uso do termo "kardecismo" apropriado.
As expressões nasceram da necessidade de alguns em distinguir o "espiritismo" (como originalmente definido por Kardec) dos cultos afro-brasileiros, como a Umbanda. Estes últimos, discriminados e perseguidos em vários momentos da história recente do Brasil, passaram a se autointitular espíritas (em determinado momento com o apoio da Federação Espírita Brasileira), num anseio por legitimar e consolidar este movimento religioso, devido à proximidade existente entre certos conceitos e práticas destas doutrinas.
Qualificação como ciência
Alexander Moreira de Almeida ainda tenta essa legitimação, chegando a denominar a abordagem de Kardec como "revolucionária". No entanto, o consenso científico atual considera a parapsicologia uma pseudociência, desconsiderando os supostos fenômenos paranormais que fundamentam o espiritismo, como mediunidade, reencarnação, obsessão, mesas girantes, sessão espírita, psicografia, psicopictografia, tiptologia, dentre outros. Os críticos das pseudociências chegam a definir a parapsicologia como "perversão", pois os parapsicólogos alegam que a ciência não pode ser a única privilegiada que está fora das explicações que eles defendem. O magnetismo animal (mesmerismo) também está presente nos ensinos espíritas e há constantes referências a conceitos mesméricos como, por exemplo, fluidos magnéticos. Segundo essa hipótese, algumas pessoas poderiam operar curas por meio de "fluidos". Porém, a hipótese do magnetismo animal atualmente é considerada pseudocientífica, pois desde a segunda metade do século XVIII, os cientistas sabem que as supostas curas eram apenas psicossomáticas, por meio de hipnose, sem qualquer a atuação dos "fluidos" ou magnetismo animal.
Segundo Joseph McCabe, citando as alegações de Arthur Conan Doyle sobre a confirmação por cientistas dos supostos fenômenos espirituais durante 30 anos, os médiuns enganaram os pesquisadores. Ele considera que tais enganos resultaram na linguagem arrogante da literatura espiritualista.
Um artigo publicado na revista cética britânica The Skeptic também critica o Espiritismo por estar associado à ufologia, parapsicologia, magnetismo e outras pseudociências.
Qualificação como cristão
Allan Kardec ensinava que "o ensino dos Espíritos é eminentemente cristão". Em Obras Póstumas, é afirmado que o espiritismo é "a única tradição verdadeiramente cristã". Autores espíritas como José Reis Chaves e Severino Celestino da Silva também afirmam que a reencarnação fazia parte do cristianismo primitivo, até ser condenada pelo Segundo Concílio de Constantinopla. Essa tese polêmica foi popularizada ainda antes por Leslie Weatherhead, mas também tem sido questionada com base em afirmações dos pais da igreja e na falta de referências à reencarnação durante aquele Concílio.
A própria qualificação do espiritismo como cristão tem gerado controvérsias. O dr. Antônio Flávio Pierucci, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e estudioso da religiosidade brasileira, também é um dos que afirmam que o espiritismo "não é uma religião cristã". Não há no espiritismo doutrinas históricas do cristianismo, presentes em suas principais vertentes, como a Trindade, a ressurreição física de Jesus, a inspiração da Bíblia e a redenção. Devido a essas diferenças, muitos acadêmicos o tem considerado como um tipo de "neocristianismo". Autores espíritas, porém, entendem que o espiritismo é cristão, por reproduzir o ensino de que devemos amar ao próximo.
Segundo seguidores e simpatizantes da Doutrina Espírita, os fenômenos mediúnicos seriam universais e teriam sempre existido, inclusive com fartos relatos na Bíblia. Entre outros, os espíritas citam como exemplos mediúnicos bíblicos a proibição de Moisés à prática da "consulta aos mortos", que seria uma evidência da crença judaica nessa possibilidade, já que não se interdita algo irrealizável; a consulta de Saul, primeiro rei do antigo Reino de Israel, à Bruxa de Endor, em I Samuel 28:1–25, que vê e ouve o Espírito desencarnado de Samuel, o último dos juízes de Israel e o primeiro dos profetas registrados na história do seu povo; a comunicação de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor na Transfiguração de Jesus (Mateus 17:1–9).
Na filosofia antiga também há exemplos: nos Diálogos de Platão, este fala sobre o daimon ou gênio que acompanharia Sócrates.
Muitos espíritas adotam a data de 31 de março de 1848 (início dos acontecimentos mediúnicos na residência das Irmãs Fox em Hydesville, EUA) como o marco inicial das modernas manifestações mediúnicas, alegadamente mais ostensivas e frequentes do que jamais ocorrera, o que levou muitos pesquisadores a se debruçarem sobre tais fenômenos.
Allan Kardec
Durante o século XIX houve uma grande onda de manifestações mediúnicas nos Estados Unidos e na Europa. Estas manifestações consistiam principalmente de ruídos estranhos, pancadas em móveis e objetos que se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente, como no caso das "mesas girantes". No final dos anos 1840 destacou-se o suposto caso das Irmãs Fox, nos Estados Unidos.
O verdadeiro Espírita não é aquele que crê nas manifestações, mas aquele que aproveita o ensinamento dado pelos Espíritos. De nada serve crer, se a crença não o faz dar um passo à frente no caminho do progresso, e não o torna melhor para o seu próximo
— Allan Kardec; O Espiritismo na sua Mais Simples Expressão.
Quanto à sua formação, foi discípulo de Pestalozzi e membro de diversas sociedades acadêmicas. O seu principal intuito como espírita era dar algum suporte à espiritualidade humana numa época em que a ciência avançava a passos largos e as religiões perdiam cada vez mais adeptos. Kardec julgava ter encontrado um novo modo de pensar o real, que uniria, de forma ponderada, a ascendente ciência e a decadente religião. Analisou relatos de inúmeras ocorrências mediúnicas espalhadas pela Europa e Estados Unidos, unificando as informações que interpretou a fim de codificar esse tipo de prática e os ensinamentos transmitidos.
Provemos-lhe que, graças aos ensinamentos dos que eles chamam demônios, compreendemos a moral sublime do Evangelho, que se resume no amor de Deus e dos nossos semelhantes, e na caridade universal. Abracemos a Humanidade inteira, sem distinção de culto, de raça, de origem e, com mais forte razão, de família, de fortuna e de condição social. Que saibam que nosso Deus, o Deus dos espíritas, não é um tirano cruel e vingativo,que pune um instante de desvario com torturas eternas, mas um pai bom e misericordioso, que vela por seus filhos extraviados com uma solicitude incessante, procurando atraí-los a si por uma série de provas destinadas a lavá-los de todas as máculas.
— Allan Kardec, "Jornal de Estudos Psicológicos", Revista Espírita, pg. 18, janeiro de 1863.
As mesas girante
As primeiras manifestações de mesas girantes observadas por Kardec aconteceram por meio de mesas se levantando e batendo, com um dos pés, um número determinado de pancadas e respondendo, desse modo, sim ou não, segundo fora convencionado, a uma questão proposta.
Apesar da crença que supostos espíritos ou gênios movimentavam as mesas, experimentos científicos de Michael Faraday publicados em 1853 mostraram que os movimentos eram causados pelo efeito ideomotor e descartaram as explicações paranormais para o fenômeno das mesas girantes. O efeito ideomotor também causa os movimentos observados no chamado tabuleiro ouija e na "brincadeira do copo", nos quais os participantes movimentam marcadores involuntariamente sobre letras e números e também atribuem os movimentos a supostos espíritos ou gênios.
Kardec, analisando esses fenômenos, concluiu que não havia nada de convincente neste método para os céticos, porque se podia acreditar num efeito da eletricidade, cujas propriedades eram pouco conhecidas pela ciência de então. Foram então utilizados métodos para se obter respostas mais desenvolvidas por meio das letras do alfabeto: a mesa batendo um número de vezes corresponderia ao número de ordem de cada letra, chegando, assim, a formular palavras e frases respondendo às perguntas propostas. Kardec concluiu que a precisão das respostas e sua correlação com a pergunta não poderiam ser atribuídas ao acaso. Ele também questionou a possibilidade de uma hipótese muscular (como o efeito ideomotor) ser causa de todos os alegados movimentos e mensagens das mesas girantes ou de outras produções mecânicas. O ser misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua natureza, declarou que era um espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito. Posteriormente o fenômeno diminuiu de popularidade e chegou a tornar-se anedótico.
Victor Hugo, durante seu exílio na ilha de Jersey (1851-1855), participou de inúmeras sessões de mesas girantes com seu amigo Auguste Vacquerie e passou a acreditar que havia entrado em contato com espíritos de falecidos, inclusive sua filha Léopoldine (morta por afogamento) e grandes escritores como Shakespeare, Dante, Racine e Molière. Diante de experiências com as mesas, Victor Hugo se converteu ao espiritismo e, em 1867, clamou que a ciência deveria dar atenção e seriedade para os fenômenos das mesas:
A mesa girante ou falante foi bastante ridicularizada. Falemos claro. Esta zombaria é injustificável. Substituir o exame pelo menosprezo é cômodo, mas pouco científico. Acreditamos que o dever elementar da Ciência é verificar todos os fenômenos, pois a Ciência, se os ignora, não tem o direito de rir deles. Um sábio que ri do possível está bem perto de ser um idiota. Sejamos reverentes diante do possível, cujo limite ninguém conhece, fiquemos atentos e sérios na presença do extra-humano, de onde viemos e para onde caminhamos.
Nascido no século XIX, no dia 18 de Abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, o espiritismo se estruturou a partir de pretensos diálogos estabelecidos com espíritos desencarnados que, se manifestando por meio de médiuns, discorreram sobre temas científicos, religiosos e filosóficos sob a ótica da moral cristã, ou seja, tendo por princípio o amor ao próximo, trazendo à luz novas perspectivas sobre diversos temas de grande relevância filosófica e teológica. Desta forma foi estabelecido um dos preceitos básicos do espiritismo que é a importância da caridade, (Lema: Fora da caridade não há salvação) entendida como sendo a benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas.
A doutrina espírita se propõe a estabelecer um diálogo entre a ciência, a filosofia e a religião, visando à obtenção de uma forma original que, a um só tempo, fosse mais abrangente e mais profunda, para desta forma melhor compreender a realidade. Kardec sintetiza o conceito com a célebre frase: "Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade".
Segundo o filósofo espírita Herculano Pires, "Filosofia Espírita, como disse Kardec, pertence genericamente ao que costumamos chamar Filosofia Espiritualista, porque a sua visão do Universo não se prende à Matéria, mas vai até o Espírito, que considera como causa de tudo o que percebemos no plano material. Englobando na sua interpretação cosmológica a Ciência Espírita, e tendo como consequência a Religião Espírita, a Filosofia Espírita encerra em si mesma toda a doutrina."
Fundamentos principais
A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes pontos (princípios):
Existência e unicidade de Deus, rejeitando o dogma da Santíssima Trindade (Conforme está na primeira questão de O Livro dos Espíritos - "Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas".);
O universo é criação de Deus, incluindo todos os seres racionais (Jesus, por exemplo) e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais, que por sua vez, todos estão destinados a lei do progresso;
Existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade inteligente da Criação Divina que atua sobre a matéria através de um conectivo "semimaterial" denominado de perispírito, e assim como o espírito, é indestrutível;
Volta do espírito à matéria (reencarnação), tantas vezes quanto necessário, como o mecanismo natural para se alcançar o aperfeiçoamento material e moral. No entanto, para a doutrina, a perfeição que a Humanidade é suscetível atingir é relativa pois apenas Deus possui a perfeição absoluta, infinita em todas as coisas. Os espíritas rejeitam a crença na metempsicose;
Conceito de "criação igualitária" de todos os espíritos, "simples e ignorantes" em sua origem, e destinados invariavelmente à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre-arbítrio;
Possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados ("vivos") e os espíritos desencarnados ("mortos"), por meio da mediunidade (também denominada comunicabilidade dos espíritos). Essa comunicação é realizada com o auxílio de pessoas com determinadas capacidades - os médiuns como, por exemplo, na chamada "escrita automática" (psicografia);
Lei de causa e efeito, compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos, segundo a qual nossa condição atual é resultado de nossos atos passados e nossos pensamentos, palavras e atos constroem diariamente nosso futuro (Quem semeia o bem, colhe o bem. Quem semeia o mal, colhe o mal);
Pluralidade dos mundos materiais habitados: a Terra não é o único planeta com vida inteligente no universo, sendo possível a reencarnação em outros orbes;
Jesus, criado por Deus, é o guia e modelo para toda a humanidade. Segundo o espiritismo, a moral cristã contida nos evangelhos canônicos é o maior roteiro ético-moral de que o homem possui, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela humanidade.
Fora da caridade não há salvação. Para o espiritismo a caridade consiste em benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas.
Além disso, podem-se citar como características secundárias:
A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do espírito;
Progressividade do princípio espiritual dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza;
Ausência total de hierarquia sacerdotal;
Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade, nem o fazer visando a segundas intenções. Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do evangelho: “Dai de graça o que de graça recebestes”;
Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por exemplo, perispírito, mediunidade, Centro Espírita;
Total ausência de exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais, amuletos, talismãs, culto ou oferenda a imagens ou altares, danças, procissões ou atos semelhantes, paramentos, andores, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso e fumo, práticas exteriores ou quaisquer sinais materiais;
Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia para oficializar casamento;
Incentivo ao respeito para com todas as religiões e opiniões.
Ter uma fé raciocinada, rejeitando a fé cega que não utiliza o raciocínio lógico em suas crenças.
Simbologia
O espiritismo não possui um símbolo oficial e prioriza uma linguagem denotativa, no entanto, o ramo de videira presente em O Livro dos Espíritos - única gravura usada por Kardec na Codificação Espírita - é considerado pela doutrina como a imagem metafórica perfeita da relação entre o espírito e o corpo humano, devido a esse trecho:
Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos.
— Prefácio de O Livro dos Espíritos.
Obras
Básicas
A seguir são apresentadas algumas das principais obras publicadas por Allan Kardec:
A obra O Livro dos Espíritos foi publicado em 1857, nele estão contidos os princípios fundamentais da Doutrina Espírita. O Livro dos Médiuns, ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, foi publicado em 1861 e versa sobre o caráter experimental e investigativo do espiritismo, visto como ferramenta teórico-metodológica para se compreender uma "nova ordem de fenômenos", até então jamais considerada pelo conhecimento científico: os fenômenos ditos espíritas ou mediúnicos, que teriam como causa a intervenção de espíritos na realidade física.
O livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, publicado em 1864, avalia os evangelhos canônicos sob a óptica da doutrina espírita, tratando com atenção especial a aplicação dos princípios da moral cristã e de questões de ordem religiosa como a prática da adoração, da prece e da caridade.
A obra O Céu e o Inferno, ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo, foi publicado em 1865 e compõe-se de duas partes: na primeira, Kardec realiza um exame crítico, procurando apontar contradições filosóficas e incoerências com o conhecimento científico, superáveis, segundo ele, mediante o paradigma espírita da fé raciocinada. Entre os assuntos estão: causas do temor da morte, porque os espíritas não temem a morte, o céu, o inferno, o inferno cristão imitado do pagão, os limbos, purgatório, doutrina das penas eternas, código penal da vida futura, os anjos, a origem da crença dos demônios. Na segunda, constam dezenas de diálogos que teriam sido estabelecidos entre Kardec e diversos espíritos, nos quais estes narram as impressões que trazem do além-túmulo.
O livro A Gênese, ou Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, foi publicado em 1868 e aborda diversas questões de ordem filosófica e científica, como a criação do universo, a formação dos mundos, o surgimento do espírito e a natureza dos ditos milagres, segundo o paradigma espírita de compreensão da realidade.
Complementares
O periódico Revue Spirite (em português Revista Espírita), voltado exclusivamente a assuntos relacionados ao Espiritismo, foi fundado por Kardec e dirigido por ele até a data de seu falecimento (1869). Já teve a participação de várias personalidades expoentes da doutrina e atualmente sua publicação é trimestral.
A obra Obras Póstumas, publicado postumamente em janeiro de 1890, pelos dirigentes da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, trata-se de uma compilação de escritos inéditos do codificador da doutrina espírita, Allan Kardec, com anotações sobre os bastidores da criação da doutrina e que auxiliam a sua compreensão.