Fé Bahá'í (em árabe: بهائية Baha'iyyah) /bəˈhaɪ/), também chamada de bahaísmo, é uma religião abraâmica monoteísta que enfatiza a união espiritual de toda a humanidade. Três princípios básicos estabelecem a base para os ensinamentos bahá'ís: a unidade de Deus, que há apenas um Deus que é a fonte de toda a criação; a unidade da religião, que todas as maiores religiões têm a mesma fonte espiritual e partem do mesmo Deus; e a unidade da humanidade, que todos os seres humanos foram criados igualmente e que a diversidade racial e cultural deve ser apreciada e aceita. Segundo os ensinamentos da fé bahá'i, o propósito humano é aprender a conhecer e a amar a Deus através de métodos como orações, reflexões e ajuda aos outros.
A Fé Bahá'i foi fundada por Bahá'u'lláh na Pérsia. Bahá'u'lláh foi exilado da Pérsia para o Império Otomano devido a seus ensinamentos, falecendo enquanto ainda era oficialmente um prisioneiro. Após a morte de Bahá'u'lláh, sob a liderança de seu filho, `Abdu'l-Bahá, a religião se expandiu de suas origens persa e otomana e ganhou espaço na Europa e nas Américas, além de ter se consolidado no Irã, onde sofre intensa perseguição. Após a morte de `Abdu'l-Bahá, a liderança da comunidade bahá'i entrou numa nova fase, passando de um único líder para uma ordem administrativa com órgãos eleitos e indivíduos indicados. Há mais de cinco milhões de bahá'ís espalhados por mais de 200 países e territórios.
Na Fé Bahá'í, a história religiosa da humanidade é vista como tendo sido manifestada através de uma série de mensageiros divinos, cada um dos quais estabeleceu uma religião adequada às necessidades de seu tempo e à capacidade das pessoas de então. Esses mensageiros vão de figuras abraâmicas como Moisés, Jesus, Maomé às dármicas como Krishna e Buda. Para os bahá'is, os mensageiros mais recentes são o Báb e Bahá'u'lláh. Segundo os ensinamentos bahá'ís, cada mensageiro profetizou sobre os próximos, e a vida e os ensinamentos de Bahá'u'lláh completou as promessas escatológicas das escrituras anteriores. A humanidade é entendida como fazendo parte de um processo de evolução coletiva e a necessidade do tempo atual é o estabelecimento de paz, justiça e unidade a uma escala global.
A palavra Bahá'í é usada tanto quanto um adjetivo para se referir à Fé Bahá'í quanto um termo para se referir aos seguidores de Bahá'u'lláh. A palavra não é um substantivo que significa a religião como um todo. É derivada do árabe Bahá' (بهاء), que significa "glória" ou "esplendor". O termo "bahaísmo" (ou "baha'ísmo") também é usado, embora de maneira pejorativa.
Três princípios básicos estabelecem a base da doutrina e dos ensinamentos bahá'í: a unidade de Deus, a unidade da religião e a unidade da humanidade. Desses postulados se forma a crença de que Deus revela periodicamente sua vontade através de mensageiros divinos, cujo propósito é transformar o caráter da humanidade e desenvolver, entre aqueles que respondem ao chamado, qualidades morais e espirituais. A religião é, então, vista como ordeira, unificada e gradual de época em época.
Deus
Os textos da Fé Bahá'í descrevem um Deus único, pessoal, inacessível, onisciente, inextinguível e todo poderoso que é o criador de todas as coisas no universo. A existência de Deus e do universo é considerada eterna, não tendo começo ou fim. Apesar de ser diretamente inacessível, Deus é visto como consciente da criação e possui uma vontade e um propósito, manifestados através de mensageiros intitulados Manifestações de Deus.
Os ensinamentos bahá'ís defendem que Deus é grandioso demais para os humanos compreenderem ou criarem uma imagem completa e precisa Dele por si próprios. Assim sendo, o entendimento humano de Deus só é atingido através de Suas revelações a Suas Manifestações. Na fé bahá'í, Deus é chamado por títulos e atributos (o Todo-Poderoso ou o Todo-Amoroso, por exemplo), e há uma ênfase substancial no monoteísmo; doutrinas tais quais a da Trindade são vistas como comprometedoras se não contraditórias à visão de que Deus é único e não possui equivalentes. Os ensinamentos bahá'ís afirmam que os atributos que são imputados a Deus são usados para traduzir Sua palavra em termos humanos e também para ajudar as pessoas a se concentrarem em seus próprios atributos na adoração a Deus para desenvolver suas potencialidades em seu caminho espiritual. Segundo os ensinamentos bahá'ís, o propósito humano é aprender a saber e amar a Deus através de métodos tais como oração, reflexão e ajuda aos outros.
Religião
As noções bahá'ís da revelação religiosa gradual resulta na aceitação da validade das religiões mais bem conhecidas do mundo, cujos fundadores e figuras centrais são vistas como Manifestações de Deus. A história religiosa é interpretada como uma série de dispensações, onde cada manifestação traz uma revelação mais ampla e avançada, adequada ao tempo e ao local no qual é expressada. Ensinamentos religiosos específicos, tais como a direção das orações ou restrições dietárias, podem ser revogados por uma manifestação subsequente para que uma exigência mais apropriada para o tempo e local seja estabelecida. Por outro lado, certos princípios gerais (por exemplo, companheirismo ou caridade) são vistos como universais e consistentes. Na crença Bahá'í, este processo de revelação gradual não vai acabar; acredita-se que seja cíclico. Os bahá'ís não esperam a aparição de uma nova manifestação de Deus nos próximos mil anos a partir da revelação de Bahá'u'lláh.
As crenças bahá'ís são ocasionalmente descritas como combinações sincréticas das primeiras crenças religiosas. Os bahá'ís, no entanto, asseguram que a sua religião é uma tradição distinta, com suas próprias escrituras, ensinamentos, leis e história. Inicialmente a religião foi vista como uma seita do Islã, mas atualmente a maioria dos teólogos a vêem como uma religião independente que tem como pano de fundo o islamismo xiita e cuja origem é análoga ao contexto judaico em que o cristianismo foi estabelecido. As instituições e o clero muçulmano, tanto sunita quanto xiita, consideram os bahá'ís como desertores ou apóstatas da fé islâmica, o que tem levado à perseguição de bahá'ís. Os próprios bahá'ís atestam que sua fé é uma religião independente, que se difere das outras tradições no que diz respeito a sua idade e aos ensinamentos de Bahá'u'lláh num contexto moderno. Acredita-se que Bahá'u'lláh tenha completado as expectativas messiânicas das fés precursoras.
Humanidade
Os bahá'ís acreditam que o ser humano possui uma "alma racional", que provê à espécie uma capacidade única de reconhecer a Deus e a relação da humanidade com seu criador. Todo ser humano é considerado possuidor do dever de reconhecer a Deus através de seus Mensageiros e dos ensinamentos deles. Através do reconhecimento e da obediência, serviço à humanidade e práticas espirituais, os bahá'ís acreditam que a alma pode se aproximar de Deus, o ideal da crença. Quando um ser humano morre, a alma continua existindo no mundo espiritual, onde seu desenvolvimento espiritual no mundo físico torna-se base para julgamento e progresso no mundo espiritual. O céu e o inferno são vistos como estados espirituais de proximidade ou distância de Deus, sendo indicadores da relação nesse mundo e no próximo, e não lugares físicos de recompensa e punição atingidos após a morte.
Os textos bahá'ís enfatizam a igualdade essencial dos seres humanos e a abolição de todos os tipos de preconceito. A humanidade é considerada essencialmente una, embora diversificada; esta diversidade de raça e cultura é considerada merecedora de apreciação e tolerância. Doutrinas de racismo, nacionalismo, castas, e classes sociais são impedimentos artificiais da unidade. Os ensinamentos bahá'ís declaram que a unificação da humanidade deve ser assunto principal sobre as condições religiosas e políticas no tempo presente.
A história bahá'í segue a sequência de líderes da religião, começando com a declaração do Báb em Shiraz, no Irã em 23 de maio de 1844 até a ordem administrativa estabelecida pelas principais figuras da fé bahá'í. A comunidade bahá'í esteve confinada aos impérios persa e otomano até a morte de Bahá'u'lláh em 1892, possuindo então seguidores em 13 países da Ásia e da África. Sob a liderança de seu filho, `Abdu'l-Bahá, a religião ganhou terreno na Europa e na América e se consolidou no Irã, onde ainda hoje sofre intensa perseguição. Após a morte de `Abdu'l-Bahá em 1921, a liderança da comunidade bahá'í entrou numa nova fase, passando de um único indivíduo para uma ordem administrativa com órgãos eleitos e indivíduos indicados.
O Báb
Na noite de 22 de maio de 1844, Siyyid `Alí-Muhammad de Shiraz, Irã proclamou ser "o Báb" (الباب "o Portão"), anunciando mais tarde ser o Mádi, o 12° ímã do islamismo xiita. Seus seguidores ficaram conhecidos como bábís. Conforme os ensinamentos do Báb se espalharam, o que o clero islâmico via como uma ameaça, seus seguidores passaram a sofrer perseguições, linchamentos e torturas. Os conflitos se agravaram a tal ponto que diversos locais foram cercados pelo Exército do xá. O Báb foi preso em 1846 e mais tarde executado, em 1850.
Os bahá'ís veem o Báb como precursor de sua fé, uma vez que os escritos do Báb introduziram o conceito de "aquele que Deus tornará manifesto", uma figura messiânica cuja vinda, segundo os bahá'ís, foi anunciada pelas escrituras de todas as grandes religiões do mundo, e quem Bahá'u'lláh, o fundador da fé bahá'í, afirmou ser em 1863. O Santuário do Báb, localizado em Haifa, Israel, é um importante local de peregrinação para os bahá'ís. Os restos mortais do Báb foram trazidos secretamente do Irã para a Terra Sagrada e depois enterrados na tumba construída para eles num local especificamente determinado por Bahá'u'lláh. As principais obras escritas pelo Báb estão compiladas na Seleção dos Escritos do Báb, a partir de um total estimado de 135 obras.
Bahá'u'lláh
Mírzá Husayn `Alí Núri foi um dos primeiros seguidores do Báb e, mas tarde, adotou o título de Bahá'u'lláh, nome que significa "Glória de Deus". Ele foi preso por seu envolvimento com o Báb em 1852. Bahá'u'lláh relata que enquanto estava encarcerado no calabouço de Síyáh-Chál em Teerã, recebeu os primeiros sinais de que era "aquele que Deus tornará manifesto" previsto pelo Báb.
Em 1853, ele foi expulso de Teerã para Bagdá, então no Império Otomano; e depois para Constantinopla (atual Istambul) e depois para Adrianópolis (atual Edirne). Em 1863, na época de seu banimento de Bagdá, Bahá'u'lláh declarou, num jardim de Bagdá, ser o missionário divino previsto pelo Báb. Cresceram-se as tensões entre ele e Mírzá Yahyá, seu meio-irmão mais novo que, incitado por Siyyid Muhammad, tornou-se líder nomeado dos bábís que não reconheciam como verdadeira a declaração de Bahá'u'lláh. Durante o resto de sua vida, porém, Bahá'u'lláh ganhou a lealdade da maioria dos bábís, que passaram a ser denominados bahá'ís. A partir de 1886, ele começou a declarar sua missão enquanto mensageiro de Deus em cartas para os líderes religiosos e seculares do mundo, incluindo Papa Pio IX, Napoleão III e Rainha Vitória.
Em 1868, Bahá'u'lláh foi banido de Constantinopla pelo sultão Abdulazize para a colônia penal otomana de `Akká, localizada no atual estado de Israel. Perto do fim de sua vida, o severo e duro confinamento foi gradualmente relaxado, e lhe foi permitido morar numa casa perto de `Akká enquanto ele ainda era oficialmente um prisioneiro daquela cidade. Ele morreu lá em 1892. Os bahá'ís se viram para seu local de descanso na mansão de Bahjí, conforme determina o Qiblih, quando vão realizar suas orações diárias.
Bahá'u'lláh escreveu muitas obras que são consideradas escrituras da fé bahá'í, das quais apenas uma fração foram traduzidas para o português. Há cerca de 15 000 obras, tanto grandes quanto pequenas, das quais as mais significativas são o Livro Mais Sagrado, o Livro da Certeza, as Palavras Ocultas e Os Sete Vales. Há também uma série de compilações de obras menores, das quais a mais significativa é a Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh.
`Abdu'l-Bahá
`Abbás Effendi era o filho mais velho de Bahá'u'lláh, conhecido pelo título de `Abdu'l-Bahá ("Servo de Bahá"). Seu pai deixou um testamento que nomeava `Abdu'l-Bahá como líder da comunidade bahá'í e o descrevia como "centro do Convênio", "líder da fé" e único intérprete autorizado de seus escritos. `Abdu'l-Bahá esteve exilado e preso com seu pai, fato que continuou até a Revolução dos Jovens Turcos em 1908. Após sua libertação pelos revolucionários, ele viveu uma vida de viagens e conferências e manteve contato, via correspondência, com comunidades de fiéis e indivíduos, expondo os princípios da fé bahá'í. Ele morreu em 1921.
Estima-se que `Abdu'l-Bahá escreveu mais de 27 000 obras, a maioria das quais no formato de cartas, sendo que apenas uma fração delas foi traduzida para o português. Dentre suas obras conhecidas estão O Segredo da Civilização Divina, a Carta a Auguste-Henri Forel e o Esplendor da Verdade (anteriormente chamado Respostas a Algumas Perguntas). Além disso, transcrições de muitas de suas conferências durante sua jornada pelo Ocidente foram publicadas em vários volumes, tais como as Palestras de Paris que, embora não reconhecidas no cânone de suas obras, ganharam ampla aceitação entre os bahá'ís.
Administração Bahá'í
As obras Kitáb-i-Aqdas de Bahá'u'lláh e A Última Vontade e Testamento de `Abdu'l-Bahá são documentos fundacionais da ordem administrativa bahá'í. Bahá'u'lláh estabeleceu a Casa Universal de Justiça, cujos membros são eleitos, e `Abdu'l-Bahá estabeleceu a Guardiania hereditária, cujos membros são nomeados, e esclareceu a relação entre as duas instituições. Em seu testamento, `Abdu'l-Bahá nomeou seu neto mais velho, Shoghi Effendi, como primeiro guardião da fé bahá'í; ele serviu como líder da religião por 36 anos até sua morte.
Durante sua vida, Shoghi Effendi traduziu textos bahá'ís, desenvolveu planos para a expansão da comunidade bahá'í, desenvolveu o Centro Mundial Bahá'í, manteve uma volumosa troca de correspondências com comunidades e indivíduos ao redor do mundo e construiu a estrutura administrativa da religião, preparando a comunidade para a eleição da Casa Universal de Justiça. Ele morreu em 1957 sob condições que não lhe permitiram nomear um sucessor.
Em níveis local, regional e nacional, os bahá'ís elegem os 9 membros da Assembleia Espiritual, que governa os assuntos da religião. Há também indivíduos nomeados que trabalham em vários níveis, incluindo localmente e internacionalmente, que desempenham a função de propagar os ensinamentos e proteger a comunidade. Eles não atuam como clero, o que a fé bahá'í não possui. A Casa Universal de Justiça, eleita pela primeira vez em 1963, continua sendo o sucessor e governante supremo da fé bahá'í, e seus 9 membros são eleitos a cada cinco anos pelos membros de todas as Assembleias Espirituais Nacionais. Qualquer bahá'í do sexo masculino, com 21 anos de idade ou mais, é elegível para a Casa Universal de Justiça; todos os demais postos estão abertos para bahá'ís de ambos os sexos. Nenhum indivíduo possui autoridade individual; as decisões são de caráter consultivo e são válidas apenas se o quórum das entidades bahá'ís estiver completo.
Planos internacionais
Em 1937, Shoghi Effendi lançou um plano de sete anos para os bahá'ís da América do Norte, seguido por outro em 1946. Em 1953, ele lançou o primeiro plano internacional, a Cruzada de Dez Anos. Este plano trazia metas extremamente ambiciosas para a expansão da comunidade e instituições bahá'ís, a tradução de textos bahá'ís em línguas ainda inéditas e o envio de pioneiros bahá'ís para nações anteriormente não alcançadas. Effendi anunciou, através de cartas escritas durante a Cruzada de Dez Anos, que outros planos seriam lançados sob a direção da Casa Universal de Justiça, eleita em 1963 no auge da Cruzada. Em 1964, a Casa de Justiça lançou um plano de nove anos e uma série de planos plurianuais subsequentes, de duração e objetivos diversos, foram lançados em seguida, guiando a direção da comunidade bahá'í internacional.
Anualmente, em 21 de abril, a Cada Universal de Justiça envia uma mensagem de Ridván para a comunidade bahá'í em todo o mundo, que geralmente oferece uma atualização sobre o progresso do plano atual e oferece orientações para o ano seguinte. Os bahá'ís em todo o mundo estão sendo incentivados a se concentrar na construção de competências através de aulas para crianças, grupos de jovens, reuniões devocionais e estudo sistemático da religião através de círculos de estudo. Outros focos são o envolvimento na ação social e participação nos debates predominantes da sociedade. Os anos de 2001 até 2021 representam quatro planos sucessivos de cinco anos, culminando com o centenário da passagem de `Abdu'l-Bahá.
Os textos canônicos são os escritos do Báb, de Bahá'u'lláh, `Abdu'l-Bahá, Shoghi Effendi e da Casa Universal de Justiça, assim como as conversas autenticadas de `Abdu'l-Bahá. Os escritos do Báb e de Bahá'u'lláh são considerados revelação divina, os escritos e as palestras de `Abdu'l-Bahá e os escritos de Shoghi Effendi são considerados interpretação oficial e os textos da Casa Universal de Justiça são considerados legislação oficial e elucidação. Supõe-se algum tipo de orientação divina para todos estes textos. Dentre os principais escritos de Bahá'u'lláh estão o Kitáb-i-Aqdas, literalmente "O Mais Sagrado Livro ", que é seu livro de leis, o Kitáb-i-Íqán, literalmente "O Livro da Certeza", que se tornou a base de grande parte da crença bahá'í, As Joias dos Mistérios Divinos, que inclui novas bases doutrinais, e Os Sete Vales e Os Quatro Vales, que são tratados místicos a respeito da jornada da alma a caminho de Deus.